Por Rogério Barbosa
O
Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu abrir processo administrativo
para apurar se houve irregularidades na falência da Petroforte, uma das
maiores distribuidoras de combustível do país. No dia 9 de maio, o Órgão
Especial da corte concluiu que há indícios suficientes para a
instauração de processo administrativo para apurar as supostas
irregularidades na conduta do juiz que homologou um acordo que teria
prejudicado mais de 800 credores que têm R$ 1,2 bilhão a receber.
No
centro da investigação está o juiz Luiz Beethoven Giffoni Ferreira, da
18ª Vara Cível do Fórum Central de São Paulo, que nomeou a esposa de
Luciano Volk, seu advogado e amigo particular, para o cargo de
co-síndica da falência. O juiz também aceitou Volk como representante
dos falidos. A indicação teria sido feita por Kátia Rabello,
proprietária da Securinvest, empresa que também teve bens bloqueados no
processo de falência da Petroforte.
As suspeitas caem exatamente
sobre a relação pessoal entre o juiz, o representante dos falidos e a
co-sindica da falência, que teria resultado em um acordo de valor muito
inferior aos que já haviam sido propostos e recusados antes. A
Securinvest entregaria aos credores uma usina avaliada em R$ 200 milhões
para liberar seus bens e, por extensão, também ativos do Grupo Rural.
Esta decisão prejudicaria mais de 800 credores que nada receberiam, já
que o valor do acordo absorve apenas o passivo trabalhista.
De
acordo com o procedimento da Corregedoria apresentado contra o juiz, a
proposta de acordo que ele homologou foi absolutamente inferior às
anteriores, “com absoluto desprezo à manifestação contrária da massa de
credores que ofertou Agravo de Instrumento e à manifestação do
Ministério Público, que solicitou audiência para esclarecimento do
acordo”.
De acordo com Luiz Batista Neto,
advogado da empresa OAR, que atua como auxiliar da Justiça no processo
movido contra o juiz, antes da celebração do acordo, a massa falida já
havia sido procurada por Volk. Luiz Batista afirmou que Volk disse ser
amigo íntimo do juiz e que, por isso, seria mais fácil a celebração de
um acordo perante o juízo da falência.
Já Volk garante que nunca
manteve relação de amizade com o juiz Beethoven e que sua contratação
jamais foi indicada por Kátia Rabello. Ele alega que foi contratado
porque ja havia atuado, com êxito, em favor de outros falidos, em
propostas de ressarcimento semelhantes à da Securinvest. "É bom deixar
claro que há vários casos de outras empresas, representadas por
advogados distintos, que, antes da Securinvest, foram excluídas da
falência da Petroforte, mediante o justo ressarcimento à massa falida",
disse.
Sobre a nomeação de sua esposa como co-síndica da falência,
Volk afirma que aconteceu devido a um pedido expresso do síndico Afonso
Alves Braga, que não estaria conseguindo dar destinação comercial a
alguns ativos do setor de combustíveis. "A advogada [sua esposa]
é, em nível nacional, reconhecidamente tida como uma das maiores
autoridades nesse setor. Já defendeu, em sua longa trajetória
profissional, o interesse de mais de 300 empresas do setor de
combustíveis. A sua escolha contou com a anuência do Ministério Público,
não havendo recurso de qualquer dos credores", ressaltou.
Volk
ainda aponta que o STJ reconheceu que a participação da Securinvest na
falência da Petroforte se limitou a uma operação relativa aos bens de
uma usina de álcool, e nada mais. "Considerando, então, os reais limites
da responsabilidade da Securinvest na falência da Petroforte, o juiz
Luiz Beethoven manifestou o seu entendimento jurídico no sentido de que a
penalização da Securinvest deve, para ser justa, compreender os bens
relativos à Usina, na medida em que, passados mais de dez anos, o
síndico não logrou comprovar que a Securinvest deu causa —direta ou
indiretamente — a qualquer outro dano ou prejuízo à massa falida",
afirmou.
"Daí por que a proposta de ressarcimento apresentada pela
Securinvest e por outras empresas não é lesiva aos direitos dos
credores. Isso porque as empresas entregaram à massa falida vários bens
que, somados, apresentam valor muito superior ao originalmente
existente. A Usina foi avaliada judicialmente e vendida por R$ 200
milhões. A decisão do Juízo está inteiramente de acordo com a
responsabilidade delimitada na extensão da falência à Securinvest, bem
como é juridicamente possível a proposta de pagamento apresentada pelas
empresas, à luz dos precedentes existentes na própria falência da
Petroforte", concluiu Volk, que disse ainda que a Securinvest não havia
oferecido nenhuma proposta antes do acordo homologado.
Há cerca de
um mês, a Corregedoria do TJ tinha decidido arquivar o caso, o que
levou a OAR a entrar com recurso. Após a sustentação oral do advogado
Batista Neto, 20 dos 25 desembargadores contrariaram o voto do relator
do caso e consideraram que as reclamações apresentadas deveriam ser
apuradas e o processo foi aberto.
O caso
A Petroforte está em falência há nove anos. Em 2007, o juiz Luiz Beethoven Giffoni Ferreira estendeu a falência a diversas empresas que, segundo a Justiça, envolveram-se em uma operação simulada de crédito para desviar bens da Petroforte e, assim, blindá-los do bloqueio judicial.
A Petroforte está em falência há nove anos. Em 2007, o juiz Luiz Beethoven Giffoni Ferreira estendeu a falência a diversas empresas que, segundo a Justiça, envolveram-se em uma operação simulada de crédito para desviar bens da Petroforte e, assim, blindá-los do bloqueio judicial.
Entre essas empresas estavam a Rural Leasing, que
pertence ao Grupo Rural, de Kátia Rabello, e a Securinvest. Os advogados
recorreram dizendo que não havia vínculo societário entre elas.
O
caso foi parar no Superior Tribunal de Justiça, que manteve a falência a
Kátia Rabello e ao seu grupo. A sentença saiu após a comprovação de que
Kátia era proprietária da Securinvest e de que essa companhia era sócia
de outra empresa, de Ari Natalino da Silva, o fundador da Petroforte,
morto em 2008.
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