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Edição/247
O SENADOR GOIANO NÃO SE TRANSFORMOU EM “MOSQUETEIRO DA ÉTICA” POR VOCAÇÃO; ELE EXERCEU O PAPEL PORQUE ISSO INTERESSAVA A DETERMINADA IMPRENSA, QUE SE LEVANTOU CONTRA UM PROJETO POLÍTICO, COM UM DISCURSO HIPÓCRITA E DE VIÉS NEOUDENISTA, CONSTRUÍDO EM TORNO DO FALSO MORALISMO
247
– Chegou
o grande dia. O senador Demóstenes Torres (sem partido/GO) será
finalmente cassado nesta quarta-feira. Com sua queda, cairá também
a hipocrisia da sociedade brasileira que, nos últimos anos, foi
alimentada por um discurso político e ideológico, de linhagem
udenista, construído por falsos moralistas – no Congresso, e fora
dele.
Neste
jogo, papel de destaque deve ser atribuído à revista Veja. De
certa maneira, foi a publicação da Editora Abril que moldou o
comportamento do senador goiano. Demóstenes não se transformou em
“mosqueteiro da ética” por vocação. Apenas exerceu esse papel
porque, rapidamente, percebeu que era o que lhe rendia mais citações
nas páginas da revista e alguns segundos no Jornal Nacional.
Ex-secretário
de Segurança de Goiás, ele poderia ter sido um “xerifão”, por
exemplo, na linha do “bandido bom é bandido morto”. Vestiu um
papel mais civilizado, porque havia uma avenida aberta.
Em
julho de 2007, quando Veja movia uma campanha contra o senador Renan
Calheiros – não por razões éticas, mas porque o político
alagoano liderava a ala do PMDB que se aliaria ao PT, e não ao PSDB
nas eleições seguintes –, a revista elegeu os “mosqueteiros da
ética”. E, claro, Demóstenes estava lá.
“O
outro (mosqueteiro da ética) é o incansável senador Demostenes
Torres, do DEM de Goiás. No Conselho de, digamos assim, Ética do
Senado, ele é uma das únicas vozes a exigir investigações sérias
e denunciar as manobras para absolver sem apurar. Demostenes Torres
entende o que muitos senadores fazem questão de não ver: o Senado
está se desmoralizando numa velocidade avassaladora. A esperança
que resta é que esse pequeno conselho de mosqueteiros da ética
consiga derrotar as malandragens do grande Conselho de, digamos
assim, Ética do Senado”, dizia o texto da revista.
Chega
a ser risível, portanto, ver Demóstenes protestar diante de um
plenário vazio contra os julgamentos sumários da mídia. Ora,
justamente ele que era sempre o primeiro a se apresentar ao batalhão
de fuzilamento?
Mais
recentemente, Demóstenes concedeu entrevista de páginas amarelas à
revista Veja. Posou vestindo a roupa que lhe foi costurada pela
Abril e disse: “Só nos sobrou o Supremo”. Segundo ele, até
mesmo o Senado havia passado a reagir bovinamente diante dos
escândalos sucessivos de corrupção (denunciados, é claro, por
Veja). “Antes do mensalão, ainda havia certo pudor dos
parlamentares em abrir investigações, quebrar sigilos e dar uma
satisfação ao eleitor”, disse o (ainda) senador goiano.
Pois,
se é assim, nesta quarta-feira, o Senado se reconciliará com a
opinião pública cassando o Senador Cachoeira.
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